Reflexões baseadas no livro de John Ortberg : Somos todos anormais, Editora Vida.
Paulo Solonca
Marcos 2: 1 Dias depois, entrou Jesus de novo em Cafarnaum, e logo correu que ele estava em casa. Muitos afluíram para ali, tantos que nem mesmo junto à porta eles achavam lugar; e anunciava-lhes a palavra. Alguns foram ter com ele, conduzindo um paralítico, levado por quatro homens. E, não podendo aproximar-se dele, por causa da multidão, descobriram o eirado no ponto correspondente ao em que ele estava e, fazendo uma abertura, baixaram o leito em que jazia o doente. Vendo-lhes a fé, Jesus disse ao paralítico: Filho, os teus pecados estão perdoados.
Qualquer pessoa naquelas condições teria de passar a vida como mendigo — deitado à beira da estrada, dependendo das moedas de pessoas caridosas. Podemos imaginar a dor e a angústia de se ver tolhido de se movimentar por si só. Não é nada agradável aceitar a realidade de depender dos outros para continuar vivo. Creio que ele olhava para o corpo que o tornava prisioneiro, olhava para seu leito , sua maca em que se resumia seu único mundo — ela sabia que tinha pouquíssimas chances de ser um homem livre.Seu habitat era na maior parte do tempo o seu leito de 90 cm de largura por 1,80 m de comprimento. Sua vida póderia ser considerada uma tragédia a não ser pelo fato de que tinha algo muito importante a seu favor? Ele tinha excelentes amigos.
Na verdade este paralítico entrou para a história, por causa de seus amigos. Sem os amigos, ele jamais teria se aproximado de Jesus, jamais teria sido curado, jamais teria recebido perdão por seus pecados. Todas essas coisas resultaram de algumas decisões sabias tomadas muito tempo atrás: Preciso ter amigos verdadeiros.Em razão de sua condição física, não lhe era fácil fazer amigos. Mesmo em nossos dias, os deficientes físicos dizem que os obstáculos mais difíceis de enfrentar são as atitudes de pessoas consideradas "normais", que às vezes não sabem como agir, são indelicadas ou desviam o olhar. Este mundo de gente apressada não é um lugar muito agradável para quem não é capaz de acompanhar seu ritmo frenético e acelerado.
Porém, no mundo antigo, a situação era bem pior. Os gregos eliminavam os bebés recém-nascidos com anomalias físicas. Aristóteles escreveu: "Deve existir uma lei para impedir que as crianças deformadas sobrevivam". Em Roma, durante o século V a.C., havia este artigo na legislação: "Matar rapidamente toda equalquer criança deformada". Além disso, aquele homem sofria de outro estigma. Havia em Israel uma crença de que a deficiência física estava ligada a pecados cometidos pela pessoa, ou por seus antepassados . Foi por esta razão que os discípulos ao verem um cego de nascimento perguntam a Jesus: "Mestre, quem pecou: este homem ou seus pais, para que ele nascesse cego?". Nota-se aí o preconceito de modo velado, mas existente .No entanto, na história que estamos lendo há um pequeno grupo de homens que se recusam a permitir que preconceitos ou mesmo um obstáculo qualquer pudesse dete-los .
Esta é a mensagem central desta passagens dos Evangelhos: aquele pequeno grupo de amigos . Ele não surgiu por acaso. Mesmo diante de obstáculos enormes — estigma social, dificuldades, pressão financeira, gasto de tempo e energia —, eles se tornaram amigos do paralítico .
É raro as pessoas manifestarem o desejo de envolver-se totalmente em amizades profundas e significativas. O psicólogo Alan McGinnis observa que a regra número um para alguém ter uma amizade sólida parece ser muito simples: dê prioridade máxima a seus relacionamentos. Por mais incrível que possa parecer, temos a tendência de gastar tempo demais para estudos, ganhar dinheiro, realizar as tarefas do dia-a-dia, lazer, cultura, ter um corpo esbelto e sarado, ter sucesso na profissão, mas não dedicamos nosso bem mais precioso — o tempo — ao objetivo para o qual fomos criados: a comunidade. Uma das afirmações bíblicas mais contraditórias em relação à cultura da época é a descrição da igreja primitiva. Ao falar da união e comunhão dos crentes, o escritor observa: "Eles se reuniam todos os dias...". Adoravam ao Senhor juntos, comiam juntos, discutiam juntos, oravam juntos — todos os dias. Não é de admirar que fossem tão unidos. Não é de se admirar que na sua simplicidade eles transtornaram o mundo de sua época.
Talvez, a maior barreira que a maioria de nós enfrenta para ter um relacionamento mais intenso com as outras pessoas - seja simplesmente o ritmo que imprimimos à nossa vida. O verdadeiro relacionamento exige grandes doses de dedicação e de tempo disponível. Se você pensa que pode desenvolver amizades significativas e relacionamentos intensos encaixando-os nos intervalos de uma agenda lotada . . . não se iluda.
As pessoas sábias não têm pressa quando o assunto é amizade, filhos ou casamento. Você não pode ter pressa para relacionar-se com outras pessoas. Não pode ter pressa para ouvir. Não pode ter pressa para chorar com os que choram ou alegrar-se com os que se alegram. Muitas pessoas não têm amigos - por um simples motivo: nunca dão prioridade máxima aos seus relacionamentos. Você não pode ter pressa para carregar a maca de alguém. E todos nós temos uma maca.
Pense na dificuldade que o paralítico teve para fazer amizade com aquele grupo de homens. Ele deve ter lutado algumas vezes consigo mesmo por ser tão dependente. Imagino que, em certas ocasiões, ele chegou a invejar a independência dos amigos porque, quando se despediam, todos voltavam andando para casa, menos ele. Aquele homem deve ter desejado, no íntimo de seu coração, trocar de lugar com um deles. Deve ter se sentido frustrado por saber que todos viam nele um inválido, um homem carente.
Continua no arquivo : Comunidade da Maca 2
Um comentário:
Deixo um comentário generalista: li vosso perfil e vi que o senhor é da mesma Igreja da minha filha Andressa. Como vi que o senhor gosta de viajar venho mostrar este trabalho do Blog Brasil exótico. Ali vamos mostrar o Brasil que muitos brasileors não conhecessem inteiro. Ainda temos muito trabalho pela frente e já colocamos 4 Estados no ar. Visite! Veja a belza exótica do nosso país.
Grande abraço.
A.I.
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